Mandei muitos e-mails. Procurei você. Esperei uma resposta, um sinal, um sorriso — nem que fosse o último. Senti a dor da sua partida como quem sente o corpo se despedaçar aos poucos.
Eu sei que sou forte. Já superei muita dor. Mas perder seu amor é um tipo de sofrimento resistente, teimoso. Ele volta todo dia, como se ainda tivesse algo a dizer.

Assumo a culpa. Nunca consegui me perdoar por tudo o que não fiz, pelas palavras que engoli, pelas atitudes que falharam. Talvez por isso eu tenha sabotado tantos relacionamentos depois de você — como se, inconscientemente, eu precisasse pagar pelo amor que deixei escapar.

Amar, eu amo. Sinto com força, com presença. Mas ser amada… é aí que tudo se complica. Pode soar estranho, eu sei. Mas é verdade. Carrego em mim um coração cheio de amor e, ao mesmo tempo, um emaranhado de dúvidas, traumas e contradições. Quero ser amada, mais do que tudo, mas às vezes parece que não sei como.

Fiquei presa nesse amor que acabou há vinte anos.
Aos 19, eu acreditava que amor e carreira eram inimigos. Que dar certo na vida significava deixar o coração de lado. Hoje, aos 38, solto um riso irônico ao lembrar dos planos de estabilidade que fiz naquela época. A juventude tem mesmo o dom de sonhar alto.

E mesmo assim, penso em você todos os dias. Tento esquecer, juro. Mas cada vez que abro o portão de casa, olho para os lados, procurando algo que sei que não está mais ali. Penso em você quando o sol se põe, quando acordo, quando deito. Quando estou feliz, é quando você mais aparece.

Também lembro de você nas minhas quedas, nas noites difíceis, nos silêncios. Você era o lugar onde eu podia ser frágil. Tirava minha armadura e me despia de corpo e alma, porque sabia que seus braços me sustentariam.
Na última vez que nos vimos, eu só queria isso: me despir de novo, deixar você acessar minhas dores, me acolher mais uma vez. Mas eu não vi que, dessa vez, era você quem precisava de cuidado. Fui egoísta.

Você encontrou outro amor. Alguém que foi o que eu devia ter sido.
E, mais uma vez, me culpo.

Já tentei te arrancar do coração. Tentei jogar fora fotos, presentes, até os cristais que você me deu. Mas algo sempre me impede de seguir. Deprimente, né? Eu sei.
Às vezes me pergunto se enlouqueci ou se sempre fui assim, um pouco fora da curva. Talvez eu seja só uma artista com sentimentos grandes demais. Intensa, sim. Desorganizada por dentro, talvez.

E sigo aqui, dia após dia, escavando o passado. Procurando alguma coisa que me lembre de você ou que me ajude a esquecer.

Talvez esse texto sirva pra isso. Ou, quem sabe, só pra me lembrar que sentir também é uma forma de arte.